Lago di Como
La donna del lago não é um sonho meu. Uma mulher apaixonada ou de paixões que à minha frente se despiu e se uniu com as águas do lago, só as roupas deixando ao abandono na margem, à espera do corpo que cobriam, sem pressas, sem identificação. A mesma água onde eu tinha os pés descalços, de calças arregaçadas até aos joelhos, levou-a para longe, com patos e cisnes. Olhou-me antes de se despir. Tirei-lhe uma fotografia. Despiu-se como se eu não estivesse ali ou como se fôssemos amantes. E eu voltei a fotografá-la. Tudo se passou no silêncio do lago, sem mais que a troca de um aceno de cabeça à sua chegada e duas fotografias, na presença dos patos que nos olharam com curiosidade e dos peixes que se acercaram, talvez à procura de comida ou para ver quem disturbava a água. Fui-me embora sem me despedir, sem um aceno sequer. Não sei se ela me terá visto ir embora.